09 julho, 2005

Moléculas de autodefesa

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Experimentos realizados no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, chegaram a uma conclusão importante: moléculas presentes na pele de alguns peixes brasileiros, como o pacu, o tambacu e o tambaqui, apresentam substâncias com atividades antimicrobianas. Segundo a pesquisa, desenvolvida no Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, entre as moléculas analisadas no muco que reveste a pele dos peixes se destacaram as proteases e os peptídeos.

Os peptídeos são capazes de desestabilizar a membrana celular dos microrganismos que atingem os peixes. A ação antimicrobiana das proteases está relacionada à fragmentação de proteínas da membrana do parasita, fazendo com que eles morram ou se desliguem de seu hospedeiro. “Esses peixes de água doce produzem naturalmente essas moléculas, pois o muco que reveste a pele deles é a primeira barreira de defesa contra a ação de microrganismos”, disse Cristiane Martins de Salles, coordenadora do estudo, à Agência FAPESP. “E existem algumas classes de peptídeos encontradas na pele dos peixes que podem até servir para a formulação de medicamentos contra enfermidades humanas.”

Cristiane explica que as proteases são enzimas que participam de vários processos metabólicos e que, por conta disso, também são consideradas alvos valiosos para o desenvolvimento de fármacos. Por enquanto, os pesquisadores estão concentrados em desenvolver moléculas que consigam manipular a atividade enzimática das proteases nos peixes. “Com isso, será possível aumentar a atividade protetora das proteases para que os peixes consigam se defender melhor”, explica.

Com base na análise dos mecanismos de defesa dos peixes, a idéia é criar armas mais eficientes contra as pragas e menos agressivas ao meio ambiente. “Os ataques de bactérias e fungos provocam uma mortalidade muito grande em peixes de cativeiros. Aumentando a defesa desses animais será possível aumentar sua produtividade, sem contar que o criador poderá economizar com a aplicação de antibióticos”, disse Cristiane.