22 março, 2006

Bioquímica da longevidade

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - As correlações entre a insulina e a reprodução, a longevidade e a resposta ao estresse são conhecidas há pelo menos duas décadas. Na década de 1990, manipulações bioquímicas feitas nesse universo orgânico, mais especificamente sobre os receptores de insulina, mostraram que era possível aumentar a vida de um organismo.

Entretanto, como tudo está relacionado, o lado negativo do processo também apareceu. Os mesmos resultados mostraram que as alterações bioquímicas feitas com o objetivo de ampliar a longevidade diminuíram a eficiência reprodutiva e o grau de resposta a eventos estressantes dos mesmos indivíduos.

Como esse caminho biomolecular passa pela questão do envelhecimento, é bastante natural que ele continuasse chamando a atenção dos pesquisadores. O mais recente volume da revista Cell revela que essa busca será feita, a partir de agora, de um outro patamar. “A grande novidade do trabalho feito no Instituto Salk [localizado na Califórnia] é mostrar que o envelhecimento é um processo regulado, e não simplesmente um processo natural”, afirma Gustavo Maciel, médico e cientista brasileiro que participou da equipe que desenvolveu o trabalho nos Estados Unidos. Maciel retornou a São Paulo no dia 16.

Os cientistas descobriram que essa regulagem é feita por um determinado gene, que recebeu o nome de Smk-1. A partir do entendimento do processo de regulagem, será possível imaginar que a manipulação biomolecular dentro da via de insulina – as reações químicas desencadeadas pelo hormônio – pode ocorrer de forma direta sobre o fator da longevidade sem que ocorra perda de outras funções (reprodução e resposta ao estresse).

Apesar de uma importante porta ter sido aberta, muitos estudos serão necessários até que um passo efetivamente prático, em termos sociais, possa ser dado. “É razoável imaginar que será possível, por exemplo, desenvolver uma droga com uma ação mais específica sobre esse fator de transcrição [envelhecimento] agora descrito”, explica Maciel.

Além de revelar mais um elo da via de insulina, o trabalho feito na Califórnia, segundo o pesquisador brasileiro, serve para evidenciar também a importância que os modelos biológicos têm na ciência atual. Os estudos foram feitos com o verme C. elegans, que apresenta aproximadamente 40% de similaridade genética com os seres humanos, o que é considerado bastante pelo cientistas.

“Os estudos com esse verme estão sendo feito nos principais centros de pesquisa do mundo. É importante que ele passe a ser usado mais também aqui no Brasil”, adverte Maciel. Para o pesquisador brasileiro, o estudo com o verme é uma opção bastante indicada, porque permite obter respostas em nível orgânico a perguntas científicas complexas feitas previamente.