03 fevereiro, 2006

Professor Formiga

Agência FAPESP

Um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, demonstrou o que se acredita ser uma forma de educação formal identificada em um animal não humano. A pesquisa verificou que formigas usam uma técnica de ensino em que alguns indivíduos ensinam a outros as melhores rotas até fontes de alimentos.

Sinais entre duas formigas controlam tanto o percurso quanto a velocidade. Esse comportamento, segundo os pesquisadores, indica que pode ser o valor da informação, mais do que o tamanho do cérebro, o que influencia a evolução do aprendizado. O estudo, feito pelos professores Nigel Franks e Tom Richardson, foi publicado na revista Nature.

De acordo com a definição de ensino no comportamento animal, um indivíduo é um “professor” se ele modifica seu comportamento na presença de um “aluno”, a um custo inicial para ele mesmo, de modo a dar um exemplo para que o outro consiga aprender mais rapidamente.

“Acreditamos que o real ensinamento sempre envolve troca nas duas direções, entre o professor e o aluno. Em outras palavras, o primeiro fornece informação ou direcionamento ao segundo, em uma freqüência adequada às capacidades desse, e o pupilo sinaliza ao mestre quando partes da lição foram assimiladas, de modo que o ensinamento possa continuar”, disse Franks, em comunicado da Universidade de Bristol.

Todas essas características estão presentes no comportamento das formigas estudadas, da espécie Temnothorax, segundo a pesquisa. No início do processo, chamado de “percurso em fila”, o líder encontra um jovem indivíduo disposto a segui-lo. Mas o processo é lento, pois o aluno freqüentemente pára, de modo a olhar em volta à procura de sinais para que possa aprender a rota. Após completar a localização espacial, toca no líder para que a caminhada e o aprendizado continuem.

A análise detalhada dos movimentos dos professores e alunos mostra a relação entre os dois. Se a distância entre eles fica muito grande, o líder diminui a velocidade e o seguidor corre mais rapidamente. Nos casos em que o espaço se torna muito pequeno, é a vez de o líder acelerar. A relação não supõe subordinação. Enquanto o professor fornece o percurso, o aluno dita a velocidade da lição ao parar freqüentemente para consolidar o seu conhecimento detalhado da rota.

Outro ponto é que o líder paga um preço, pois se seguisse sozinho chegaria cerca de quatro vezes mais rápido à fonte de alimentos. Mas o benefício é que o aluno aprende onde está a comida muito mais rapidamente por esse processo do que o faria sozinho. Ou seja, a perda individual é compensada grandemente pelo ganho coletivo.

Depois de aprender o percurso, o aluno torna-se professor, ensinando outros indivíduos e ampliando o fluxo de informação dentro do formigueiro. “É um comportamento eficiente com uma simplicidade encantadora”, disse Tom Richardson.