28 agosto, 2006

Célula adulta pode virar embrionaria

Cientistas conseguiram fazer com que células diferenciadas adultas adquirissem o mesmo potencial terapêutico de células-tronco após alteração genética. Em experimento com camundongos, os pesquisadores conseguiram acionar a produção de quatro proteínas da classe dos "fatores de transcrição" --aquelas que regulam a ativação de genes específicos-- capazes de conferir versatilidade a células comuns.

"Estamos trabalhando agora com células humanas, mas não sabemos quanto tempo levaremos para terminar esta fase do projeto", disse Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, que descreve o experimento junto com seu colega Kazutoshi Takahashi em estudo na revista "Cell". "A demora dependerá de os quatro fatores que usamos funcionarem em células humanas ou de serem necessários fatores adicionais."

Se tiverem sucesso, os pesquisadores esperam conseguir uma fonte de células terapêuticas que podem ser a alternativa ao uso de células-tronco embrionárias, capazes de se diferenciar nos mais variados tipos de tecido. Técnicas experimentais que fazem uso delas procuram tratamentos melhores para doenças diversas, indo de males cardíacos até alguns tipos de degeneração nervosa.

Hoje, porém, é preciso destruir embriões para obter as células terapêuticas. Religiosos classificam essa prática como aborto, o que tem dificultado a pesquisa na área. Alguns cientistas têm procurado usar células-tronco adultas em tratamentos experimentais, mas o potencial de tratamento das adultas aparentemente é menor do que o das embrionárias.

A identificação dos quatro fatores de transcrição que induzem a pluripotência (versatilidade) das células foi o ponto-chave do trabalho de Yamashita e deve influenciar até mesmo pesquisas com células-tronco. Em comunicado à imprensa, a "Cell" manifestou surpresa com o fato de os cientistas terem conseguido transformar a natureza das células usando apenas quatro fatores.

Poucos e bons

"Na verdade, não sabíamos de antemão se o número de fatores seria da ordem de um, dez ou cem, então não ficamos surpresos com o número quatro em si", diz Yamanaka. "Surpreendemo-nos com o fato de termos tido a sorte de identificar os fatores necessários."

Yamanaka abre uma nova perspectiva para pesquisas, mas seu estudo foi recebido com cautela pelos pares.

"O trabalho é importante como prova de princípio", diz Marco Antônio Zago, pesquisador da USP de Ribeirão Preto. "Mas, no estado atual, essas células não poderiam ser usadas em experimentos clínicos, pois foram modificadas com genes que têm potencial cancerígeno, como c-Myc." Zago alerta que o uso de células geneticamente alteradas também pode levantar questionamentos éticos.

Stevens Kastrup Rehen, da UFRJ, aponta para o fato de algumas das células obtidas por Yamanaka terem número anormal de cromossomos. "Isso foi praticamente ignorado na discussão do trabalho." Para Rehen, também é preciso analisar se as células de Yamanaka foram efetivamente transformadas ou se surgiram a partir de escassas células-tronco adultas existentes na pele.

Fonte: Induction of Pluripotent Stem Cells from Mouse Embryonic and Adult Fibroblast Cultures by Defined Factors Kazutoshi Takahashi and Shinya Yamanaka 10.1016/j.cell.2006.07.024

Vacina contra obesidade

Solução terapêutica deve atuar diretamente na ação da grelina, hormônio que ajuda o organismo a controlar o peso. Um grupo formado por cientistas japoneses e norte-americano anunciou ter obtido sucesso em testes com uma vacina focada no controle de peso.

Na pesquisa, publicada pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foram desenvolvidas vacinas dirigidas para atuar diretamente no hormônio grelina. Descoberta em 1999, a grelina tem sido objeto de muitos estudos desde então. O hormônio ajuda o organismo a controlar o peso como parte de um complexo sistema que regula a ingestão de alimentos e o consumo de energia.

No novo trabalho, ratos imunizados com a vacina continuaram se alimentando normalmente, mas ganharam menos peso e gordura corporal do que os animais do grupo controle, que comeram quantidades iguais.

Segundo os autores, os resultados mostram que as soluções testadas afetaram diretamente o metabolismo e o uso de energia dos animais. Foram desenvolvidos três tipos de vacina com diferentes composições químicas. Dois deles se mostraram mais eficientes.

“O estudo é o primeiro a publicar evidência indicando que evitar que a grelina atinja o sistema nervoso central pode produzir uma redução desejada no aumento de peso”, disse Kim Janda, uma das autoras do estudo e professora de química do Instituto Scripps de Pesquisas, dos Estados Unidos, em comunicado da instituição.

A descoberta pode ser importante especialmente para o desenvolvimento de alternativas para enfrentar o problema conhecido como dieta da sanfona, o ciclo de repetidas perdas e ganhos de peso enfrentado por muitos indivíduos obesos que querem emagrecer.

Mas os pesquisadores ressaltam que, apesar dos resultados positivos obtidos, uma vacina contra a obesidade para uso humano ainda está longe de ser conseguida. “Não estamos afirmando que nosso estudo responde à questão do tratamento contra a obesidade de uma vez por todas, mas que ele confirma que essa [a imunização] é uma alternativa séria e viável para o problema”, disse Kim Janda.

Fontes: Vaccination against weight gain. Eric P. Zorrilla et al. Published online before print August 4, 2006. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 10.1073/pnas.0605376103